quinta-feira, 8 de março de 2012

Inspiração quaresmeira



Quando saímos para passear nas “roças” da nossa Badia nos deparamos com algo peculiar: o colchete fechando uma estrada para o gado não sair. E, para adentrarmos na propriedade, temos que abri-lo.
Para se abrir um colchete o sujeito não precisa ser estudado não, porém tem que ter técnica. Ele chega próximo e retira a parte superior primeiro, depois a parte de baixo e leva aquela barreira de arame e pau para o lado.
Uma vez ultrapassado o colchete deve ser fechado novamente para manter sua função.
No lugar do colchete, às vezes, se usa a porteira ou um pontilhão de ferro (mata-burro). Porém, em nossa zona rural, ainda faltam muitos mata-burros para serem colocados.
Numa fazenda em Ibitira me deparei com uma cena impressionante: um cabra , leitor desse blog, conversando com umas vaquinhas que estavam pastando próximo à divisa da propriedade. Ele dizia: - prestem atenção! Não podem sair por ali na porteira senão o Maroveu vem e pega vocês.
E as vaquinhas nem chegavam perto da porteira nem da cerca. Fiquei impressionado e fui logo perguntando: Que isso companheiro, as vaquinhas te entendem? E quem ou o que diabos seria Maroveu?
O capiau, sorrindo, disse: Olha atleticano, as vaquinhas me entendem sim. Porque nós somos seres humanos e elas (como todos os mamíferos) são seres “umanos”, vem do ume. E Maroveu é o personagem do causo que aconteceu com meu avô, que eu repito toda noite pras vacas ficarem atentas.
Curioso quis saber do causo:

Meu vô, disse o compadre,  que antigamente morava na fazenda, na parte da tarde sempre saía com sua charrete para fazer seus negócios na Ibitira (lá na venda do Geraldo Tiú), e voltava à noite; bem à noite! E sempre que chegava na fazenda, madrugada, era a mesma coisa: para o cavalo, desce da charrete, abre a porteira, volta pra charrete, passa a charrete mais o cavalo pela porteira, desce da charrete, fecha a porteira, volta pra charrete e depois vai chegando na casinha onde guarda as tralhas e a charrete, além de dar água e comida para o Amendoim (amendoim era o nome do cavalo). Já estava cansado de fazer isso diariamente, mas fazer o que! Certa vez ele chegou em frente a porteira e antes de descer pra fazer o de sempre, avistou a porteira se abrindo. Olhando bem, viu que era um cara muito esquisito, de roupa bonita, camisa xadrez da marca Maroveu, gravata, com meia sem sapato que abria. Embora achasse muito estranho, meu vô achou ótimo, pois afinal não ia precisar fazer todo aquele trabalhão. Aí... quando o sujeito terminou de abrir a porteira, meu vô passou com a charrete e imediatamente olhou pra trás para agradecer o sujeito. Mas ele não estava mais lá... sumiu? como? e a porteira estava completamente fechada, como se não estivesse sido aberta. Meu vô disse que nunca teria dado tempo do sujeito fechar a porteira e sumir neste minúsculo intervalo de tempo com que passou com a charrete e olhou pra trás. Muito esquisito!

Quando acabou de falar o causo, olhei para o lado e vi que as vacas estavam todas assustadas, que coisa não?

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