(Da revista digital superinteressante)
Você certamente já usou uma ou outra expressão dessa lista a torto e a direito, mas será que você conhece a origem por trás delas? Para não te deixar com a pulga atrás da orelha, a SUPER te traz a curiosa história de dez expressões da língua portuguesa que costumamos utilizar no nosso dia-a-dia.
1. Santo do Pau Oco
Hoje utilizamos a expressão “santo do pau oco” para designar pessoas dissimuladas, mas a origem dessa expressão é histórica e subversiva. No auge da mineração no Brasil, no período colonial, os impostos sobre o ouro e outros metais e pedras preciosas eram altíssimos. Para burlar esse esquema, imagens santas de madeira oca eram produzidas e depois recheadas de bens preciosos, como o ouro em pó. Desse modo, era possível passar pelas Casas de Fundição sem pagar os abusivos impostos à Coroa. Não é à toa que uma imagem sagrada que esconde vil metal virou sinônimo de falsidade e hipocrisia.
2. Amigo da onça
A expressão “amigo da onça” tem origem em uma velha anedota, famosa nos anos 40, que vai mais ou menos assim:
“Dois caçadores estão conversando:
– O que você faria se estivesse na selva e aparecesse uma onça na sua frente?
– Dava um tiro nela.
– E se você não tivesse uma arma de fogo?
– Furava ela com minha peixeira.
– E se você não tivesse uma peixeira?
– Pegava qualquer coisa, como um grosso pedaço de pau, para me defender.
– E se não encontrasse um pedaço de pau?
– Subia numa árvore
– E se não tivesse nenhuma árvore por perto?
– Saía correndo.
– E se suas pernas ficassem paralisadas de medo?
Nisso, o outro perdeu a paciência e explodiu:
– Peraí! Você é meu amigo ou amigo da onça?”
A expressão foi popularizada com a criação do “Amigo da Onça”, personagem do chargista Péricles Andrade Maranhão para a revista O Cruzeiro, cuja página foi a mais lida no período de sua publicação entre 1943 até 1961. O famoso personagem era irônico e crítico dos costumes brasileiros, e procurava sempre levar vantagem sobre os outros, além de viver colocando os amigos em situações perigosas ou embaraçosas. Seu nome acabou sendo, então, a inspiração para a expressão usada até hoje, de quando falamos daquele amigo sacana e falso.
3. Chorar as pitangas
Essa expressão vem do início do processo de colonização do Brasil, quando houve um choque cultural entre os portugueses e os indígenas que viviam por aqui. Segundo os historiadores, os portugueses enfrentaram algumas dificuldades na nova terra e por isso buscaram incorporar alguns costumes dos índios. Com isso se deu início a diversas trocas culturais, inclusive de expressões que perpetuaram em nosso cotidiano. Bem, parece que a adaptação dos colonos por aqui não foi fácil, já que a expressão lusitana “chorar lágrimas de sangue” era bem usada por eles. Para os índios, porém, a fala não fazia muito sentido, tanto que tiveram que fazer uma adaptação. No caso, a palavra “sangue” foi substituída por “pitanga”, palavra derivada de “pyrang” que significa “vermelho” em tupi. Como quando se chora muito os olhos ficam vermelhos, nasceu a relação entre o chororô e a frutinha cor de sangue nativa da Mata Atlântica brasileira.
4. Ovelha negra
A expressão “ovelha negra” é bastante usada, não só no Brasil, para designar alguém que destoa de um grupo, que não se encaixa por causa de diferenças. Quando usamos a expressão “ovelha negra da família”, estamos falando daquela pessoa que é diferente do resto de seus parentes: aquele filho tido como rebelde ou o que se destoa por suas atitudes e visões de mundo tidas como errôneas. A expressão surgiu com o pastoreio: apesar da maioria das ovelhas serem brancas, as vezes nascia um espécime preto, mais difícil de cuidar e que não acompanhava os outros animais. A preferência pela ovelha branca também tinha valor econômico, já que a lã branca podia ser tingida e assim tinha mais valor no mercado. O motivo do significado negativo da expressão também vem de antigas crenças de algumas religiões pagãs. Segundo essas crenças, todos os animais pretos eram maléficos, e muitas vezes eram sacrificados em homenagem aos deuses.
5. Acabou em pizza
Essa expressão, bastante utilizada no meio político, é bem conhecida por nós: quantas vezes vimos uma situação mal explicada acabar em pizza, ou seja, sem que ninguém fosse punido ou responsabilizado? Por incrível que pareça, a origem desta expressão não veio da política, e sim do futebol. Aconteceu na década de 60, quando alguns cartolas palmeirenses ficaram 14 horas seguidas trancados numa reunião discutindo e brigando. No final estavam todos mortos de fome e resolveram ir a uma pizzaria, onde pediram 18 pizzas gigantes e muito chope. Depois de toda comilança e álcool, todos foram para casa, as brigas acabaram e não houve mais discussão. O episódio foi documentado pelo jornalista Milton Peruzzi na Gazeta Esportiva com a seguinte manchete: “Crise do Palmeiras termina em pizza”.
6. Rodar a baiana
Quem “roda a baiana” é o tipo de pessoa que não leva desaforo pra casa. “Rodar a baiana” significa fazer um barraco, tirar satisfações de forma geralmente escandalosa. Quando você se deparar com aquela pessoa “barraqueira”, que roda a baiana por qualquer coisa, lembre-se das baianas no carnaval do Rio de Janeiro. Sim, porque a expressão não veio da Bahia como se possa imaginar, e sim dos desfiles de carnaval do século 20, onde as baianas eram figuras de destaque. Já naquela época elas enfrentavam um problema nada fácil de lidar: alguns rapazes tascavam beliscões nos bumbuns das moças, que não tinham como se defender. Para colocar um fim nessa situação desagradável, alguns capoeiristas passavam-se por seguranças delas, e se fantasiavam de baianas para vigiar os tais rapazes. Resultado: no primeiro sinal de desrespeito, aplicavam um golpe de capoeira. O público que assistia ao desfile não sabia o que estava acontecendo: só viam as baianas rodarem.
7. Olha o passarinho!
Essa expressão vem do século XIX quando a fotografia foi inventada. Nessa época a tecnologia das câmeras fotográficas ainda engatinhava e a impressão da imagem no filme era bem lenta. As pessoas que iam ser fotografadas tinham que ficar imóveis por até 15 minutos até que a imagem fosse impressa na máquina. Se isso era desagradável para os adultos, para as crianças era particularmente difícil. Foi então que se teve a ideia de pendurar uma gaiola de passarinho atrás dos fotógrafos, para que o bichinho chamasse a atenção dos pequenos e eles ficassem imóveis. A expressão então ficou bastante conhecida e até hoje usada na fotografia.
8. Salvo pelo gongo
Essa expressão, que significa ser salvo de uma encrenca nos últimos segundos, tem origem na Inglaterra. Tudo começou por não haver mais espaço para enterrar os mortos, então os caixões eram abertos, os ossos retirados e então levados para um ossário, e o túmulo ficava livre para ser usado por mais um defunto. Mas ao abrir alguns caixões os coveiros achavam arranhões no lado de dentro das tampas, o que indicava que o defunto em questão tinha sido enterrado vivo, já que a catalepsia era uma doença muito comum da época. Para evitar o problema eles começaram a amarrar uma tira no pulso do defunto, que passava por um buraco no caixão e era amarrado num sino. Por dois dias após a morte da pessoa, alguém ficava de plantão ao lado do túmulo. Se o sino tocasse, significaria que ela tinha sido literalmente salva pelo gongo.
9. Bode expiatório
Essa expressão tem origem religiosa. Nas cerimônias hebraicas do Yom Kippur, o Dia da Expiação que acontecia na época do Templo de Jerusalém, um pobre animal era escolhido para ser apartado do rebanho e deixado ao relento na natureza selvagem como sacrifício, levando consigo todos os pecados da comunidade para serem expiados. Na Bíblia, essa cerimônia é descrita no livro do Levítico. Na teologia cristã, a figura do bode expiatório é um simbolismo para o sacrifício de Jesus, que deu a vida para salvar o mundo dos seus pecados. Hoje em dia a expressão perdeu sua carga religiosa, e é usada para descrever aquela pessoa que é escolhida, muitas vezes injustamente, para levar toda a culpa em situações em que as coisas não deram muito certo.
10. Sem eira nem beira
Quando uma pessoa está “sem eira nem beira” ela está na pior, ao relento ou destituída do mínimo necessário para sobreviver. Para entender essa expressão, é preciso explicar as palavras: “eira” é um terreno de terra batida ou cimento onde grãos ficam ao ar livre para secar, e “beira” é a beirada da eira. Uma eira sem beira significa falta de proteção: assim os grãos eram levados pelo vento e o proprietário ficava de mãos vazias. O interessante é que na região Nordeste o ditado tem o mesmo significado, mas outra explicação semântica. Antigamente, as casas das pessoas mais abastadas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira, parte mais alta do telhado. As pessoas com menos condições não conseguiam fazer esse sofisticado telhado, construindo apenas a tribeira e ficando assim “sem eira nem beira”. Por isso, hoje utilizamos a expressão para designar pessoas destituídas de bens e de posses.