Por debaixo da carteira dupla, de madeira e ferro, da
extinta Escola Dalila Vieira, no pequeno município de Martinho Campos, retirei
um pedaço de papel e fiz uma bola. Irrequieto e traiçoeiro atirei a bola de
papel na cabeça do aluno que se sentava a minha frente. A professora, esperta
que era, percebeu a cena e me deixou de castigo ao final da aula e fez com que
eu copiasse, cem vezes, a frase “ devo respeitar meus colegas e os
professores”. Ao fim da tarefa merecida ela ainda me disse: “Você ainda vai ser
professor!”
Daquele tempo para cá muitos anos se passaram e, fielmente à
inteligência de minha mestra, segui o caminho do magistério. Tornei-me um
professor. Um educador como se diz hoje na linguagem normalista. Ajudei a
formar grandes profissionais e partilhei meus conhecimentos a muitos educandos
em mais de dezoito anos de profissão.
Hoje vejo a carreira do professor se esvaindo pela fechadura
da porta da sala e indo embora junto às folhas que caem das árvores em época de
outono. Sim, vejo um outono na vida do professor atual. Principalmente em se
tratando do educador da escola pública: salas superlotadas, falta de respeito e
educação de berço de parte dos alunos (diferente das singelas brincadeiras como
a exemplificada no início do texto), condições miseráveis de trabalho em
algumas escolas, sistemas de ensino viciados e uma grande distância dos ideais
de Piaget. Isso sem contar nos salários que estão simplesmente ofendendo a
dignidade do professor.
Respostas ao problema não existem e, em alguns extremos,
levam os profissionais a se organizarem em greves e manifestações como estamos
presenciando, com ênfase, no Rio de Janeiro. Mas, em todo o Brasil a situação é
caótica, a educação vem andando aos trancos e barrancos e o professor cada vez
mais desvalorizado pela política atual.
A realidade, porém é abrandada pela persistência destes
batalhadores do conhecimento, dessa parcela significativa que move o ensino no
país. São milhares de homens e mulheres a frente das escolas públicas, lutando para educarem
nossos filhos e engrandecerem ainda mais este nosso país. São movidos (a
maioria) pela paixão ao magistério, pelo amor à educação. São pessoas
sensíveis, porém fortes, que sabem de sua importância perante a sociedade.
Devemos, pois, olhar com carinho para nossos mestres e
mestras e participar das escolhas políticas para que, num futuro próximo, os
professores possam ser reconhecidos e tenham melhores condições de trabalho,
além de salários dignos compatíveis com
o que fazem de melhor: educar
para a vida!
E viva os professores, além de um muito obrigado!
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